Por: ANGELA RO RO
Se ao menos eu tivesse tido a sorte da morte, no descanso da paz, quando há anos meu inferno era tão grande que até o fim me evitava, não me dando o alívio das tarefas terminadas; não estaria aqui e agora "vivendo esse momento lindo", um blog profundo como Roma induzido, como a letargia litúrgica, como espada cravada em um Harakiri.
Infância molestada, amestrada, ilustrada, estudada, inspirada e engordada como um leitãozinho prodígio e cheio de doçura espontânea, irrepreensível como a criança deve ser.
Sim, fui uma criança maravilhosa! Mas isso não bastou para impedir abusos sexuais de meu tio Benjamin, nem as dores nas costas de carregar um pesado acordeon e passar horas no banco do piano. Enfim, evitei o sexo e abracei a música.
Adolescência perplexa vivida em um país medíocre, retrógrado, republiqueta ditatorial militar e ao fugir disso indo morar em uma monarquia obsoleta, bastarda, imbecil, bêbada, arrogante, colonialista, nossa queria Grã-Bretanha. Onde aprendi a entornar copos e lavar latrinas!
Fui virgem até... (que horas são?) quase fique no convento ao som do silêncio, logo eu filha da música. Sempre fui de um recato sexual quase frígido, mas mesmo assim, a máquina hipócrita de gentes arrebentaram comigo minha mocidade, minha extroversão, minha ingenuidade, minha alegria tanto o quanto me espancaram com coronhas, canos de armas, cacetetes, barra de ferro, socos e pontapés. A maioria desconhece direitos humanos.
Segui em frente para poder tropeçar com meus próprios pés. Ai sim! Cai. Cai bem rente, raso, fundo, duro, seco, escorregadio, injusto, calúnia, infâmia, covardia, me deixando derivar para longe de tudo, me limpando com lama!
Sou vovó sem netos por ser um bebê sem bebês. Sou Maria e parto para cima do parto virgem e amamento o mundo com o leite das estéreis. Sou mãe sem filhos e filha sem mãe.
Não espero de ninguém a esperança de esperar compaixão, compreensão, solidariedade ou outro tipo de amizade ou amor. Dou o que preciso sem querer resposta, trata-se de apenas uma aposta entre eu e meu destino. Feliz sigo talvez sem nem ter o direito de em futuro próximo ser "una vecchia fragili". Tenho pois que ser forte e serei. Aliada ao tempo vencerei os males do mundo só.
Como sou feliz, sinceramente, por isso tudo!
Angela Ro Ro
Nenhum comentário:
Postar um comentário