quinta-feira, 23 de maio de 2013

Cartas sem Destinatário.

 
      -Eu escrevia, mas parei. Escrevia cartas de amor sem destinatários. Era por que esperava pelo dia de em que teria alguém para quem envia-las. Desisti, nunca mais escrevi nada... E até hoje não encontrei um endereço, nem para as cartas e nem para meu espirito exausto repousar.
     Naquele instante senti minha alma flutuar, era a coisa mais triste e poética que eu já teria escutado até então em uma mesa de bar. Resolvi deixa-la mais confortável e contei meu segredo (daquele instante):
   -Essa foi a coisa mais triste e poética que eu já ouvi.
    Sem sobriedade ela acariciava em círculos o copo de Velho Barreiro. Balançava levemente seu tênis furado e olhava para mim como se fosse me odiar para sempre. Resolveu me perguntar mais sobre isso, e aguardando a minha resposta como se fosse uma sentença. Perguntou em voz baixa :
   -Isso é triste e poético, ou poeticamente triste?
   -Se fosse poeticamente triste seria triste demais. É triste e poético!
    Falei isso para ela, e só depois de alguns goles em silencio fui me dar conta que de certa forma eu tinha ferido algo dentro dela.  As vezes seria isso o que ela precisasse. Uma nova desculpa ( diga-se, ferida) para ela escrever! Escrever ou beber?  Ela bebeu e se afogou no copo.
   Dois rapazes bebiam próximos escutando ate onde iriamos com aquela conversa. Por não suportar nós duas juntas, ou por tédio, o rapaz mais velho e barbudo comenta com o outro:
 -Olha as ideia das mina, tudo doida. Essas mina bêbada, tudo doida mew!
   Conversas de verdade incomodam? É, creio que sim. Dos botecos mais sujos das cidades aos restaurantes mais sofisticados, as mesas estão lotadas de palavras soltas e pensamentos presos, é mais fácil soltar palavras do que pensamentos, e os sentimentos? O que diremos sobre eles? Tentamos sempre fugir deles, por isso bebemos tanto? Por isso vamos tanto as igrejas?
  Não sei, pouco importa agora. Minha curiosidade se resume ao conteúdo das cartas dessa garota que pouco se importa.

2 comentários:

  1. Porra, você só evoluindo

    ResponderExcluir
  2. "...poeticamente lindo."

    Sua poesia é tocante, afável, sinestésica.
    Abraços e beijos.

    ResponderExcluir