sexta-feira, 23 de março de 2012

Conversa Rápida com Fábio da Silva Barbosa

  
 Fanzines como ''Reboco Caído'' e ''Gambiarra'', Jornal ''Impresso das Comunidades'' e o Programa de rádio online '' Hora Macabra'' de rock pesado, são trabalhos desse jornalista de Niterói-RJ que impressionam bastante.
  Dotado de uma facilidade com as palavras, o moço vem fazendo delas seu trabalho e sua arma, com um jornalismo voltado para a arte alternativa e o quotidiano das comunidades.

                                                                    -o-
  Fábio, vou começar com uma pergunta bem clichê. Desde quando usa as mídias independentes como uma de suas formas de expressões? Quando percebeu que poderia usá-las?
   Comecei muito antes de saber exatamente o que eram essas mídias. Quando ia ao colégio, ainda bem moleque, comecei a idealizar, com o único amigo que tinha, umas paradas muito loucas. Isso em um tempo em que sofria bullying por não me enquadrar no perfil da playboizada. Antes de aprender que não precisava passar por nada daquilo. O cara desenhava muito e eu vinha com as ideias. Fizemos uma galeria de personagens.. Mas acabou que a coisa parou antes de começar. Estávamos imbuídos daqueles fantásticos quadrinhos nacionais (Chiclete com Banana, Geraldão, Piratas do Tietê...). Tava ficando bacana. Uma pena não ter fluído. Mas lembro que teve umas eleições para alguma coisa e fizemos uns panfletos e cartazes do Partido Prostituto Cristão. Era tudo feito no caderno, durante a aula. Ao invés de estudar, ficava cochichando no ouvido do meu amigo desenhista as insanidades que passavam na minha cabeça e ele ia desenhando. Era um colégio católico e a parada deu a maior merda. Talvez ali tenha nascido a semente do que ainda nem sabia o que era. Depois foram acontecendo outras coisas, fui armazenando mais informações... O garoto bonzinho que só se fudia virou um puta delinquente... hahahahhaha... E lá pelo início dos anos 90 ou finalzinho dos 80 fui convidado pelo amigo Winter Bastos a participar do zine Terceiro Mundo. Mas, com o tempo, a coisa foi evoluindo muito até chegar onde está. E ainda tem muito o que melhorar. Eu usava, mas não sei... Era muita loucura. Eu trabalho com esses lances desde muito novo, mas... Sei lá... Já mudei tanto de lá para cá que não sei mais falar daquele moleque de 14 anos, completamente descontrolado. O episódio do colégio então, veio bem antes. É a primeira entrevista que lembro de comentar essa passagem.
 No Fanzine '' Reboco Caído- Edição 04'' contém uma reflexão profunda sobre a Língua Portuguesa no texto '' Língua rica ou confusa?'' onde você crítica o exagero do meio acadêmico com a ''gramática correta'', o que acaba excluindo grande parte das pessoas de defenderem suas ideias com autonomia. Conte-nos mais sobre isso, e o que a Literatura Marginal tem haver com essa ideia.
  Esse texto saiu pela primeira vez no O Berro, logo nos primeiros números. Aquele zine tava numa época ótima. Depois saiu no livro "Um ano de Berro". No Reboco 04 resolvi colocá-lo na roda de novo. É um dos textos que estão entre meus preferidos. O orgulho do papai. hahahahahhaha.... Ele registra exatamente o que penso. É um dos textos que ainda concordo, mesmo tendo sido escrito há algum tempo atrás. Minha opinião ainda continua a mesma quanto a essa ideia. Dia desses um amigo mandou um texto do Fernando Pessoa que falava sobre esse mesmo tema. Acho que era do Pessoa. Bem... Não irei lembrar disso agora. Não tem importância. O que realmente importa é a ideia questionadora e de oposição que existe nele. E não é oposição pura e simples. Não é aquela coisa de querer ser do contra. Os argumentos estão lá. Quem ainda não leu, pode encontrar no  link http://expressaoliberta.blogspot.com.br/2010/07/lingua-rica-ou-confusa.html Agora que meu blog não existe mais, tenho de catar minhas coisas espalhadas por aí. Mas essas ideias contidas nele tem tudo haver com a literatura marginal. É para isso que a cultura marginal serve. Para se opor, para questionar... Para se chocar contra o que está estático, apodrecendo. É como ser um piloto suicida.  
Você se considera um ativista? Se sim, por que adotou esse estilo de vida em uma sociedade tão individualista?
  Acho que atualmente não tenho atuado tanto para me considerar um ativista. Um ativista tem de estar constantemente na frente de batalha, promovendo um trabalho incansável e infinito. Estou numa fase nova. Acabei de me mudar para o Sul sem nenhuma estrutura ou conhecimento do lugar. Muita coisa diferente acontecendo. Novos desafios. Tô aprendendo muita coisa, fazendo novos contatos e dando meu jeito para sobreviver. Tenho lido e vivido bastante. Estou estruturando alguns novos projetos. Tenho apresentado algumas palestras sobre fanzines e outras sobre jornalismo comunitário por aqui. O livro que estou na correria para rodar... Mas são sempre aquelas dificuldades que um escritor sem grana e que não faz um trabalhinho de merda tem de enfrentar. Até participei de algumas manifestações e movimentações por aqui, mas tenho deixado muito do tempo que empregava na militância para me dedicar aos processos da vida. Meus processos internos estão tendo prioridade. Isso, com certeza, não deixa de ser revolucionário. Sem se revolucionar, você não consegue revolucionar nada ao seu redor. Normalmente, os processos internos e externos acontecem ao mesmo tempo, mas as vezes a balança se desequilibra. Isso é normal e saudável
 Mesmo não estando na situação em que se possa denominar de ativismo, vou responder a segunda pergunta. A sociedade só está do jeito que está porque houve um trabalho para ela ficar assim. As coisas não estão do jeito que estão por ser o único caminho, o caminho natural... Nada disso. Houve toda uma caminhada para chegarmos na situação atual. Lutar por mudanças é trabalhar por um mundo diferente. Militar pela transformação é fazer parte da construção de uma outra realidade. Assim como fizeram anos de transformações para tudo ficar do jeito que está, podemos fazer outras transformações para que tudo fique diferente. Vivermos em uma sociedade como esta é combustível para a luta. De qualquer forma, militando ou não, de um jeito ou de outro, nós estamos sempre contribuindo para as mudanças do mundo. Ele está em constante mudança, independente da nossa vontade. Mesmo não participando, a pessoa está contribuindo para o mundo caminhar para algum lado. O problema é que quando você abre mão de lutar, normalmente está contribuindo para a sociedade caminhar para um lado onde as coisas não ficam muito boas.
 O que você acha da '' Inclusão Digital'', e como ela pode afetar a literatura, a arte e as relações pessoais ?
  Acho que ela já está afetando tudo. Muitos ainda não tem acesso a esse universo virtual, mas quem já teve e aprendeu a utilizar os novos recursos, tem ótimas opções nas mãos. Para o artista, por exemplo, é uma ótima ferramenta para divulgação e exposição do seu trabalho. Um músico não depende mais de uma gravadora para lançar um cd. Há pouco tempo concebi um trabalho que sabia das dificuldades de encontrar uma editora que se dispuzesse a lançar devido a ousadia de sua proposta. Pois que se fodam as editoras. Fiz um PDF com o bichinho e soltei na rede. O nome desse é "A Saga do Jornalismo Livre - Escritos desorganizados" e pode ser encontrado nos links http://www.slideshare.net/ARITANA/a-saga-do-jornalismo-livre-2-verso e http://www.koosb.com/livro.php?livro=3471. Se por acaso eu ver que esse novo tá muito complicado de lançar impresso também, mando a editora as favas e lanço o PDF. Claro que o virtual nunca vai substituir o impresso. Nem se compara. Mas é mais uma possibilidade. Não tenho que deixar meus escritos mofando numa gaveta por não querer me enquadrar na caretice alheia. Agora, é claro que esses novos meios, como todas as ferramentas que existem, dependem de quem usa para determinar sua utilidade. Tem pessoas que jogam a vida fora na frente do computador. Existem os que deixam de viver no mundo real para ficar só no virtual. Quantas pessoas confirmam presença em uma manifestação numa comunidade ou página da internet e chega na hora e não aparece. Isso é que não pode acontecer. 
 Acha que a cultura dos Fanzines sofre ameaça pela cultura blogueira?
  Acho que os novos meios não ameaçam aos antigos. Eles servem como complemento. Sempre comparo essa questão dos meios virtuais com o surgimento da TV. Todos diziam que o rádio ia acabar, mas o bichinho tá aí até hoje. Lógico que atenção que um veículo recebia será dividida entre as novas possibilidades. Mudanças também são naturais. Fazem parte daquilo que estávamos conversando ainda agora. Independente da nossa vontade, as mudanças não param de acontecer. Nossa escolha consiste em fazer parte e decidir sobre essas mudanças ou deixarmos que os outros decidam por nós. Eu, por exemplo, já fui muito mais ativo na internet, mas reconheço que ando meio enjoado do computador. Atualmente priorizo muito mais os meios impressos e o contato pessoal. É aquela história da novidade. Quando surge é um tumulto, mas depois as pessoas vão reconhecendo aquela novidade como uma coisa entre todas as outras. O lance é que a velocidade dos acontecimentos não é tão rápida quando nós queremos ou acreditamos. Talvez seja nosso curto tempo de vida útil, somado a essa velocidade lenta dos acontecimentos relevantes que nos passe a impressão de definitivo. O caso é que tudo tem sempre vários ângulos. Mas acredito que o blog e o zine possam se complementar e seguir de mãos dadas, sem maiores problemas.

   Pretende vir aqui em Goiânia prestigiar seus colegas? O que pensa sobre Goiânia?
   Gostaria muito de ir aí para conhecer essa galera que vem fazendo um trabalho tão bom. O único que pude conhecer pessoalmente até agora foi o Diego, mas já saquei a energia da rapaziada e vi que é coisa boa. Quanto ao lugar, prefiro esperar uma oportunidade de ver com meus próprios olhos e daí dizer qual é. Mas um jardim onde brotam flores tão belas, não pode ser ruim. Mesmo sendo minhas queridas flores do mal. Principalmente por isso. Ou pode? Sei lá. Só vendo. Ou não? Forte abraço a todos vocês.

5 comentários:

  1. Com certeza um dos jornalistas que melhor desempenha a função de relatar ao meio social o universo das massas menos favorecidas!

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  2. O Fabinho é particularmente,
    um cara de peso.
    Gosto muito dele.
    Porque não tranquiliza,
    está sempre lutando contra a maldade.
    Ele é o meu contraste.
    Procuro sempre caminhos engenhosos,
    digamos, mais delicados...
    Me sinto uma beneficiada por
    me identificar muito com ele.
    Fábio da Silva Barbosa:
    - Estou sempre a seu favor, criador.
    Suas - manifestações - são fundamentais.

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  3. classico !!!!!sempre classico
    o grande abismo para o vão do sistema
    o colapso do caos
    isso sim é o sentido da expressão
    sentimento sem sentir
    o verdadeiro sentido
    grande abraço
    Murilo

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