terça-feira, 1 de julho de 2014

Dona Fuxica




   - Maloqueira, maloqueira de tudo!
 Falavam sobre a menina de tênis vermelho, e ela caminhava com a cabeça baixa, mãos nos bolsos. Enquanto as velhas sentadas na calçada achavam que descobriam algo perdido sobre ela.
  - Uma vez ela estava cheirando maconha no ônibus....
   As velhas ficaram caladas, ficam em silêncio esperando mais alguém passar. O dono da padaria passa por elas, subitamente ele encara uma delas, com olhar altivo. Mas  ele passa, como todos passam pela avenida principal do Bairro do Córrego.
 - Ele esta indo ver o filho do casamento com a Gerona. Coitados, eles separaram e o filho ficou ''lelê''...
 - Outro dia o padre Alcino teve que ir socorrer o menino as pressas, o menino dando uma crise, quebrou tudo na casa. Depois o levaram pra quele médico de doido lá... tal de psiquinatra. Distúrbio Bipolar, mas pra mim isso é falta de uma surra, e surra do pai. A presença masculina faz falta pro menino!
 - E não é? A Gerona parece que não gosta mais de homem, foi o que eu ouvi dizer por ai...
 Silêncio novamente... Um carro passa com uma música alta, tremendo as bases do asfalto ralo de bairro distante...
 - É ''cumadi'', eu vou indo. Tenho que lavar roupa, fazer janta e ainda adiantar a cerveja do meu maridinho que não vive sem mim.
 - Vai com Deus! Também tenho mais o que fazer, até depois da novela.
Silêncio novamente, e silêncio seguido de silêncio. Na casa de Dona Fuxica, tudo normal. Marido chegou gritando pela sua cerveja e seu bife bem passado, deu um tapa na bunda da passadeira. O filho chegou, pegou algo na geladeira, foi para quarto bater punheta. Entra a filha mais velha, nariz escorrendo todo. Vai lavar as roupas e encontra algo que nunca viu: Cocaína!
  Dona Fuxica já escutava os comentários, vai falar da vida alheia para que não lembrem de falar da sua.

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