domingo, 6 de julho de 2014

Paulo e seus diários


   Valeria acordava cedo todos os dias, arrumava o café dos filhos e arrumava os filhos também. Religiosamente, com um cuidado que mais parecia um transtorno.
  Nesse dia ela havia feito o mesmo, levantou pela manhã, deixou os filhos na escola e voltou para preparar o almoço dos filhos. Fez carne de panela, o prato favorito do filho caçula, fritou batatas para a filha mais velha e macarrão para Paulo, o filho do meio. 
  A mãe observava a mesa posta, tudo perfeito, seus filhos teriam uma boa refeição e ela poderia ir embora. Não se sabe o motivo, mas Dona Valeria se jogou da sacada que ficava em frente a mesa. Morreu na hora.
 Os irmãos ficaram divididos, a mais velha com a tia, o caçula com a avó paterna e Paulo com um tio aposentado.
  Paulo cresceu com muita rigidez. Talvez para se libertar da severa criação ele pegou mania de escrever diários, vários. Algo peculiar percorria esses diários, eram diferentes até para um adulto. Uma vez a professora pegou o menino escrevendo enquanto a classe via um filme. Uma reunião com os responsáveis foi feita imediatamente. Paulo escrevia  diários para pessoas que haviam cometido suicídio. Ele queria saber da vida delas e entender o motivo dos suicídios. Como não conseguia descobrir muita coisa sobre a vida dessas pessoas, ele punha a inventar uma vida para cada uma delas em diários sombrios.
 Muito preocupado com a saúde mental do garoto o tio resolve manda-lo para um colégio de padres, onde ele poderia ter contato com mais crianças, com livros e com a palavra de deus. Dito e feito, Paulo teve contato com os livros e colocou na cabeça que queria ser seminarista e escrever muitos livros, queria ser um padre escritor.
  Ainda na faculdade, Paulo conhece Margareth, uma americana bem mais velha, professora. Ela era muito comunicativa, mas só andava olhando para o chão com uma tristeza estranha. Seu domínio da língua portuguesa era admirado por seus alunos. Paulo e Margareth se tornam próximos, começaram um namoro proibido, a paixão dos dois ficava cada vez mais intensa, e Paulo via em Margareth alguém para dividir o segredo dos diários. Até que resolvem publica-los, mas ninguém demonstra interesse nos sombrios e indecentes diários.
  Paulo só recebia cartas de recusa das editoras. Ele entrou em uma depressão profunda, não conseguia mais escrever os diários, nem artigos,  e nem cartas de amor para sua senhora americana. 
  Em uma manhã ele se matou sem deixar carta ou algo que explicasse. Margareth comovida com o fim do jovem amante decide publicar os seus diários. Após cinco respostas negativas, uma pequena editora resolve dar o tão esperado sim. Os diários foram um sucesso de vendas, causou polemicas, segundo alguns religiosos muita gente cometia suicídio após ler os diários





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